Coitada, estava velha. As
pessoas não se importavam mais com ela, pois diziam que não aguentaria mais.
Nesses casos é melhor que
vá, sabe. Assim, ela vai deixar de agonizar, de ficar penando e sofrendo. Não
vou ter mais que ficar dando banho e trocando a pobre coitada, que vai parar de
sofrer.
Pra ser sincero, quem vai
deixar de sofrer serei eu. Seria um pouco de egoísmo se eu não assumisse que
fiquei feliz por ela ter deixado essa vida. Quando era jovem, só sabia fazer as
coisas do jeito dela. Era birrenta, teimosa mesmo. Não adiantava falar que a
coisa era de outro jeito que ela ia lá e batia o pé, dizia que não era nada
daquilo. Mimada, isso é o que ela era.
Se não mastigasse pra ela,
a pobre nem comia. Outro dia a gente tava passeando no shopping e ela insistiu
que queria uma roupa nova. Eu disse que não tinha dinheiro, mas ela não ligou.
Choramingou tanto, até que comprei a roupa nova que ela queria. Adivinha se ela
não escolheu a mais cara da loja?
Na verdade, isso era o de
menos. O que me incomodava mesmo é quando ela me obrigava a fazer coisas
desagradáveis com outras pessoas. Eu achava aquilo inadmissível, mas cedia. Eu
sempre acabo cedendo...
Numa determinada ocasião
ela falou pra eu deixar de falar com alguns amigos, dizendo que eles não eram
pra mim, que eram falsos, e que as coisas que haviam me dito eram absurdas. Eu
estava certo e eles não, ponto. Aí, mais uma vez, dei ouvidos a ela.
Em outra situação, bem
chata e recente, diga-se de passagem, ela disse pra eu me desapegar de vez
dessa história de amor. Disse que nunca tinha ouvido falar baboseira maior que
essa, dizia que era um absurdo alguém dar vazão a uma coisa que não tem
explicação, que ninguém sabe de onde veio, pra onde vai, e como essa porcaria
de amor pode dominar as ações de uma pessoa. Não concordei. Brigamos feio.
Ficamos sem olhar um para a cara do outro por um tempo. Até me obrigou a ficar
fora das redes sociais por uns dias. E essa não foi a primeira vez.
A verdade é que nunca
aceitei nenhuma dessas situações, por isso resolvi ser menos egoísta comigo,
resolvi deixá-la ir dessa pra melhor.
Adeus, RAZÃO.
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