11 de nov. de 2015

Um dia de merda

Como toda pessoa nesse universo, era necessário se alimentar. Aos 12 anos então, os meninos principalmente, encontram-se na fase que qualquer coisa minimamente comível é passível de ser devorada. E comigo não era diferente. Porém, tudo que entra...sai.

O problema é que se você não for um mendigo - você não pode sair cagando por aí e a necessidade de expelir nossas fezes (cagar, no caso) nem sempre se manifesta num local propício.

Lidar com esse tipo de situação já é difícil quando você é adulto. Agora imagine uma criança de 12 anos passando por isso. Eu estudava na sexta série, pré-adolescente, começando a ficar gordinho, cheio de espinhas e cheio de sonhos.

O dia tinha aquele ar estranho, de que algo daria errado, e foi na aula de física, entre as tediosas explicações da prof Íris, que ela veio. O mais estranho é que não foi aquela dor de barriga que vai acumulando, ela chegou do nada, sem sequer dar bom dia.

Como não era na minha casa, o pensamento inicial foi “vou prender, porque não cago fora de casa. Sou uma criança de princípios” mas era como se eu tivesse tomado dois litros de Activia estragado no dia anterior e estivesse com cocô acumulado até a garganta.
Comecei suar frio e pedi à professora para ir ao banheiro e percorri o que aparentou ser o caminho mais longo da minha vida. Suor no rosto e um senso de direção e raciocínio consideravelmente alterados, porque – apesar da minha sala ser pertinho do banheiro, eu errei a direção, prolongando ainda mais a tortura-. Entrei no banheiro como uma chita na savana e fui direto para ao último box.


*Vamos aqui lembrar ao detalhe de que sempre usava camisetas grandes, tipo três vezes maior que deveria. – Guarde essa informação.

Era mais ou menos isso o que eu vestia.

Sentei no assento sanitário e libertei o o que me prendia com uma pressão de aproximadamente 75 atm. Para quem não é muito íntimo dos conceitos da física, é como se eu estivesse peidando uma pequena bombinha amarrada num foguete da NASA. O alívio foi imediato. Mas ainda tinha muita merda por vir. Literalmente.



Devidamente aliviado, o normal seria voltar à aula de física para que o dia seguisse normalmente. Aquele dia, infelizmente, estava disposto a foder minha vida. Eu havia cometido o pior erro que um aluno do Ernesto poderia cometer no banheiro: fui direto pro box.

Explico: Devido à guerrinhas de papel higiênico molhado, a direção do colégio resolveu deixar apenas UM rolo de papel, que ficava disponível logo na entrada. Portanto, se você quisesse fazer o numero 2, era preciso todo um planejamento – difícil demais pra quem estava com o demônio dançando carnaval na barriga. Logo, com a carga despachada, eu me vi numa situação desagradabilíssima, pois eu não tinha papel higiênico. Em cerca de 10 minutos começaria o recreio e todos iriam ao banheiro. Eu me vi numa cena de filme de ação, com a contagem regressiva rolando. Um Jack Bauer que lidava com cocôs ultraviolentos. 

Minha criativa mente infantil não teve dúvidas do que fazer quando olhou para o meu pé e viu uma meia. Por favor, não me julgue. Eu era uma criança e era o que eu tinha ali.

Limpei meu simpático bumbum com a meia e percebi que havia OUTRA COISA errada. Lembra que eu disse que usava camisetas grandes? Então, ela tava meio pesada e eu me dei conta de que no desespero, havia esquecido de dar aquela levantadinha nela pra não sujar e aí foi estado de calamidade pública...
Eu nunca imaginaria que uma criança poderia pensar em suicídio, mas ali eu vi que existem casos.
Eu precisava agir. Tirei a camisa de forma tão rápida que acabei com coliformes fecais nas costas E no cabelo, fazendo aquele rastro ao longo do percurso, tipo uma listra de bosta.

É o máximo que posso fazer para vocês visualizarem.

Caso você ainda tenha dúvidas: sim, eu já estava chorando. Chorando e cheio de cocô no corpo. Sentado no chão de uma cabine sanitária. Se a Loira do Banheiro aparecesse ali eu acho que até ela teria pena daquela criança que parecia ter saído de um esgoto. Engoli o choro e pensei nas possibilidades. Tirei o "excesso" da camisa e limpei o meu corpo, a essa altura, com manchas de cocô por toda parte. Mas sabe com o que eu limpei? Isso mesmo...com a outra meia.
 
Eu já não ligava mais para o conceito de dignidade – E olha que nem sabia o significado disso na época. Voltei à ação. Como era só a parte de baixo da camisa que estava suja, botei pra dentro da calça, molhei o cabelo na pia, fiz meu topete e voltei pra sala.

O que foi, galera?

Eu crente que era porque a camisa pra dentro da calça estava charmosa. Sentei me sentindo o cara até que minha colega vira pra mim e fala “cara, tu tá todo cagado né? Que cheiro é esse?”.

Olhei de novo para a turma que, em vez de me achar charmoso, estava possivelmente cochichando “aposto que é merda. Ele tá cagado, certeza” e rindo de mim. Saí da sala, fui para a secretaria da escola, pois eles forneciam roupas extras em casos de sujeira e dei de cara com o diretor.

Sinceramente, acho que para a situação ficar pior, só faltou ele me expulsar e mandar uma equipe do zoológico me buscar. Mas fui extremamente sincero e pedi por uma nova camiseta pois aquela estava TODA CAGADA e não tinha como continuar naquela situação abaixo da linha da miséria. Seu Erno, homem de bem, me deu uma camiseta e voltei para o banheiro para me trocar viver feliz para sempre.

Tenho quase certeza de que até hoje a faxineira do colégio se pergunta antes de dormir o que aconteceu naquele banheiro para ter duas meias e uma camisa no lixo, paredes e pia, todas sujas de excrementos infantis.

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