De
família gaúcha, Daniel Galera nasceu em julho de 1979 em São Paulo, mas viveu
em Porto Alegre boa parte de sua vida. Publicou textos e contos na internet de
1996 a 2001, ano que lançou seu primeiro livro, Dentes Guardados, pelo selo independente Livros do Mal, criado por
ele, Daniel Pellizzari e Guilherme Pilla. Galera traduz livros de autores de
língua inglesa e publica resenhas, ensaios e reportagens, Escreve também prosa
de ficção e é atualmente um dos grandes nomes da literatura nacional
contemporânea.
Como escritor possui quatro livros publicados, além de
participações em algumas antologias de contos. Em 2008 chegou ao mercado o
romance “Cordilheira”, ambientado em Buenos Aires.
O livro foi o primeiro lançamento do projeto “Amores
Expressos” da Companhia das Letras, onde 17 escritores brasileiros visitaram
capitais no exterior para escrever obras de ficção. Neste mesmo ano o livro foi
o vencedor do Prêmio Literário Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional
na categoria romance e em 2009 ficou em terceiro lugar no Prêmio Jabuti, na
mesma categoria.
A história é uma narrativa da condição de Anita van der Goltz
Vianna, uma jornalista e escritora de vinte e sete anos que viaja para Bueno
Aires em razão do lançamento de seu romance, considerado pelo público e pela
crítica uma das melhores surpresas da nova literatura brasileira. Um livro com o
qual não se identifica mais, pois a Anita de agora perdeu o interesse que tinha
por literatura.
Em São Paulo são narrados os primeiros acontecimentos da vida
da protagonista, onde descobrimos que ela perdeu a mãe ao nascer e há pouco
enterrara o pai. Ainda recente, pôs fim a um relacionamento com Danilo, um
designer com quem desejava ter um filho, mas que estava mais interessado em
consolidar conquistas profissionais e sua estabilidade material. Em meio a este
turbilhão de situações novas, sofre com a tentativa de suicídio de uma amiga e
o suicídio concretizado de outra. Percebe então, que a viagem à Argentina pode
ser uma chance de espairecer, conhecer coisas novas e regressar grávida à São
Paulo.
Em
Buenos Aires, Anita acaba se envolvendo com um curioso grupo de escritores,
membros de uma seita, que vivem as vidas dos personagens que criam em
detrimento de si. Encanta-se por José Holden, um fã de seu livro e também um
dos participantes, com quem ela se envolve sexualmente e engravida. Anita entra
em confusão emocional e acaba participando de um ritual da irmandade, em que
Holden deseja reproduzir à risca uma estranha cerimônia em que ele transcenderia
a vida para viver a ficção do seu romance, do qual ele próprio era personagem. A
escritora era vista pelo amante como Magnólia, a protagonista do livro escrito
por ela e, acaba colaborando para a morte de Holden, jogado de um precipício ao
mar. Ela percebe que pode haver uma troca, já que ele deseja a morte e ela, um
nascimento, fazendo uma troca justa, em seus pensamentos. Destas trocas de
‘favores’ resultam experiências e um segundo período de crise da protagonista,
conduzindo ela a um momento decisivo, onde ela deve se posicionar em relação ao
dilema entre a vida ou a literatura, se deve viver a realidade ou inventar a
própria.
Após
o nono capítulo, a personagem encerra sua viagem e a história passa a ser
contada por Danilo, o ex-namorado que a acolhe na volta ao Brasil. Nas últimas
folhas, o leitor toma conhecimento, desta vez novamente narrado pela
protagonista, do desfecho da trama.
Diferentemente
dos romances que li de Daniel Galera, este livro trata do universo feminino, um
dos motivos que me fez escolher este, entre tantos títulos, pois acompanho o
trabalho deste autor, mas não havia lido este exemplar.
Com
uma personagem forte, sem receio de encarar os próprios abismos emocionais, o
autor me levou a vários questionamentos e reflexões durante a leitura. É uma
história de perdas e desencontros, uma reflexão sobre a arte e a vida, sonhos e
literatura. Cordilheira é um daqueles livros que nos faz pensar muito, mesmo
sendo uma realidade que não seja parecida com a do leitor ou, neste caso, nem do
autor. Em uma entrevista Daniel fala “A postura de Anita não é a minha. Mas tem uma coisa que ela diz
que poderia sair da minha boca, que é não gostar de quem fala literatura como
se tivesse letras maiúsculas, sempre."
Um
romance bem escrito, com uma história de construção simples e clara. Traz á
quem lê imagens bem construídas da Argentina e momentos de tensão em diálogos.
Paixão, loucura, obsessão e arrependimento estão presentes nesse romance.
Resenha produzida para a disciplina de Leitura e Produção de Textos III do curso de Publicidade e Propaganda da UNISC, com o professor Elenor Schneider em Setembro de 2012. Nota do professor: 9,0.
Abaixo deixo um vídeo do próprio autor falando sobre o livro.
Se copiar parte do texto por favor, coloque os créditos.

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